Caminho, têm vocês.
O meu é trilha, atalho, rua torta.
Não sou homem de avenidas, alamedas, boulevares.
Quebradas e becos, isso sim.
Vasculhando pedras, olhos fixos no chão brilhoso.
Ultimamente, nessa vida,
ando à procura de um lugar despercebido.
Alguma plaga onde a sombra me ilumine
e o sol não nos ofenda,
com toda aquela arrogância amarelada,
refletindo sabe-se lá que holofotes.
Procuro algum posto abandonado,
no lado de cá da fronteira,
onde tudo é possível,
embora não alardeado.
Encontro-me então à espera
de quem não deixe a vilania entrar
e nunca pense:
“Que será de mim sem você?”
ou:
“Que será de você sem mim?”
Pois o amor
assim costuma se esvair.
Passo e vejo as tecedeiras,
dedos ossudos, mãos descarnadas
de quem já nasceu envelhecida
para sempre esperançosa.
Da janela do trem,
um outro eu
olha-me incrédulo.
Esfrega os olhos,
mas quando os abre
a tarde já caiu por sobre nós,
como o pano de um palco itinerante.
Se tem você um caminho,
apegue-se a ele.
Vá descalço,
no lombo de um burro,
carregado em liteiras, riquixás.
Rasgue os mares,
corte os céus,
mas vá com ele,
é seu caminho.
Não há porque voltar ainda.