
Tô aqui com essa caixa, pequena, quadradinha. Pensei em te convidar pra pôr alguma coisa dentro dela, qualquer coisa, inclusive o que está pensando neste exato momento. Um pensamento, puro, sem matéria ou palavra a descrevê-lo? Bem pensado. Pode, sim. Também pode colocar, como se diz em Minas, dois dedos de prosa, um bocejo antes de cair na cama, a preguiça pra levantar. Coisas abstratas em geral, mas, se quiser, coloque objetos, idéias de objetos: limpos, brilhantes, embaçados, moles, duros, novos, usados... O que bem entender, o que quiser mesmo, aceita? Coloque sem pensar (ou pense bem antes de colocar), coloque o que não quer mais, ou aquilo que você mais quer, escolha as dúvidas que te atormentam, o jingle idiota que não lhe sai da cabeça, as mazelas, querelas, estelas... O rabo de cavalo que não ficou bom, as aulas de jiu-jitsu ou de acordeon, aquela velha passagem do ônibus que você perdeu, o filé com fritas, o cheiro do café que só sua mãe sabia fazer, lembranças, esperanças, tudo enfim que você pensar. Não importa se quer ou não se livrar. A caixa é pequena, quadradinha, mas nela cabe tudo que não tem tamanho, inclusive as minhas, as suas, as nossas ilusões.