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Ok?

sábado, 28 de fevereiro de 2009


POR QUE

NO

PAR QUE?

f.n.


Certas coisas só acontecem comigo mesmo.

Andava à espreita de umas cores que pintassem a luz do dia

(à luz do dia nada pinta)

quando dei por mim analisando as pernas

da menina que vendia sorvete atrás da barraquinha.

Puro gelo. Só mesmo comigo.


Bateu um vento,

mas já não tinha nada a ver com as pernas e a sainha,

e eu ali, de olho na tarde que se esvaía.


Gelo puro? – disse eu,

porque se há coisa que um homem faz

quando vê uma mulher que lhe interessa

é puxar conversa.

O vermelho é groselha;

amarelo, maracujá.

Era até capaz de jurar,

há quantos anos não te via

assim tão bela, expressiva...

Quer fazer umas fotos? Um book?


Só pra vê-la sorrir e duvidar, dali pra frente,

de tudo que eu dissesse, se fingindo indiferente.


Velha essa, né?


É provável uma certa alegria

ao me ouvir contar

que andava atrás de umas cores

pra pintar a luz do dia.

Quando puxei a carteira e paguei,

lá estava de novo o sorriso,

mas não me parecia falsa, a desprezível interesseira...

não nessa hora.


Virei as costas

e a ouvi dizer, baixinho para a amiga:

homem é tudo igual, só quer saber de cantar a gente...

Esse, nem dinheiro tem.


Não queria nada

nem mesmo comigo só...

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