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Ok?

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Riscos agregados

Recebo um aviso da minha velha cabeça, com seus pensamentos cabeludos. Não se trata de um aviso de vencimento, mas, de qualquer forma, preocupante na sua obviedade tão batida: “Toda tese que se comprova falsa pode abrir caminho para descobertas temporariamente verdadeiras”. Simplificando, é possível reduzi-la para o popular: “Há males que vêm para o bem”.

Esqueçamos por um momento a cruzada contra Manes Maniqueu e seus milhões, bilhões de seguidores inconscientes, e vamos aos fatos:


  • Oito anos de Bush conduziram o mundo à recessão, talvez até mesmo a uma depressão semelhante à dos anos 30.

  • É verdade, mas... Voltando às origens, foi Bill Clinton quem autorizou a desvinculação entre bancos comerciais e bancos de investimentos, na tentativa de esticar indefinidamente a corda do crescimento econômico.

  • Alan Greenspan, o mago do FED, manteve lá embaixo as taxas de juros. Quando Nasdaq quebrou, surgiu em seu lugar a bolha imobiliária, ainda mais assassina que o império virtual. Greenspan, justiça seja feita, alertou contra a “exuberância irracional” das ações de tecnologia, lastreadas pelo vento das especulações financeiras. Mas... nada disse contra imóveis sobrevalorizados ou a inclusão de compradores sub-primes no mercado das hipotecas, as famosas mortgages. Os bancos riam; as velhinhas do Kentucky esfregavam suas ricas mãozinhas.

  • Como sabemos, há premissas universalmente aceitas na política americana: democratas são de esquerda; republicanos, de direita. No entanto, Bill Clinton era democrata e manteve o Estado distante da armação da bomba que ora explode. Nesse ponto cabe um parêntese: “Ser de esquerda implica em defender o fortalecimento e a intervenção do Estado na economia?”

  • No Brasil, acho que nenhum governo foi tão estatizante quanto os militares dos anos de chumbo. Esquerda?

  • Ouvi dizer que Chaves pensa em estatizar as plantações de alface na Venezuela. Nem que para isso demore uns quarenta e sete anos no poder. Esquerda?

  • Precisamos falar em Benitos, Adolfos, Getúlios e Perons... Todos eles adoradores do Estado Superpoderoso. Esquerda?

  • Barack Obama promove a maior intervenção de todos os tempos na maior economia do planeta. Alguém aí tem outra idéia, melhor ou pior, para enfrentar a crise? Os republicanos disfarçam. Não sei se Obama quer ser visto como um político de esquerda. Duvido muito. Cada vez mais...

Em resumo, conceitos como Esquerda / Direita não devem ser desprezados ou de alguma forma ultrapassados pela globalização e suas virtudes ou maleficios. O que existe de fato são erros históricos na definição dos dois lados. A defesa do Estado como “salvador da pátria” começa com Marx e a famigerada “Ditadura do Proletariado”, equívoco que custou a cabeça do assim chamado socialismo real. Aliás, uma tragédia previamente anunciada por Bakunin, autor da profética frase: “Quem acha que a classe operária será a mesma antes e depois da tomada do poder não entende nada da natureza humana”.

De qualquer forma, o Estado que Marx, Engels, Lênin, Trotsky e seguidores defendiam não era por certo o estado capitalista. Para eles, somente após a revolução, que julgavam iminente, seria possível, através do novo Estado Proletario, instaurar a propriedade coletiva dos meios de produção, utopia transformada em “ciência”.

No capitalismo, o Estado age em defesa da classe social que detém o poder. O mesmo aconteceu com a burocracia soviética e acontece hoje na China: o Estado age em defesa dos membros do partido dominante e de seus asseclas. O resto bate palma e, às vezes, pode vaiar.

A chave para definir posições de esquerda ou de direita ainda é a atitude diante de privilégios, injustiças, e o modo como devem ser combatidos. Em princípio, todos querem um “mundo melhor”. Mas devemos individualizar ou coletivizar a origem dos problemas? Bastam algumas correções de rota ou é necessária uma transformação radical?


Por fim, é bom que se diga: em nossos dias, nenhuma análise pode ser exclusivamente econômica, social, política ou ambiental. Todos estes fatores estão definitivamente interligados. Repare que alguns políticos espertos já perceberam esta verdade, tanto é que hoje, para enfrentar a crise, propõem incentivos a quem utilizar a tal “energia limpa”. Na verdade, uma filigrana política, um paliativo que rende mais votos do que soluções.


A saída? Deixa a poeira baixar. Por enquanto está difícil enxergar o rosto no espelho.

O que posso dizer é que tem muito dinheiro atrás de um porto mais-ou-menos-seguro. Duvido muito que o Estado aprenda rapidamente a arte de erguer containers.  

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