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sexta-feira, 2 de abril de 2010

Novas Lentes Coloridas ( 2 de 7 )


                                           Imagem: outrapartedemim.blogs.sapo.pt
Tsuy reapareceu em sonho. 
Não sei se ainda se lembram dela, mas Tsuy era um brinquedo, que nós mesmos criamos. Portanto, era nossa, digamos, propriedade, mas tinha lá sua independência. Às vezes, dentro da casinha em que vivia, encontrava-se com outro brinquedo a quem chamávamos de seu amante, mas que não chegou a possuí-la. Isso deixou Tsuy desesperada, não tanto pela falta de sexo, mas, sobretudo, porque lhe foi subtraída a liberdade que julgava possuir. Pairava a suspeita de que Tsuy, em nome dessa liberdade, chegou a estrangular seu amante, conforme ela mesma confessou, mas nem isso era certo no mundo de tantos sonhos e ilusões desmedidas. Você me dizia que, por ser mulher, Tsuy queria apenas dispor da liberdade de escolher entre amar ou não amar, e que provavelmente escolheria a negativa, mas precisava ela mesma decidir. 
Criamos Tsuy para que fosse feliz e nos fizesse sorrir, pelo menos isso. Mas parece que a pequenina escolheu o caminho da infelicidade, de injúrias e pequenas baixezas, não propriamente contra nós que a criamos, tanto a ela quanto a seu amante, mas contra todos e contra tudo à sua volta. O amante de nome Bill, teria sido criação da própria Tsuy? Não importa, ela era nossa e tudo que fizesse seria nosso também, certo?
Certo, criamos Tsuy e seu amante, você me repete, mas quem nos criou?, pergunta sorrindo. Respondo que agora estou entendendo onde quer chegar, mas, mas o quê? levanta a voz a pequena Tsuy e completa: agora o que pretendem fazer de mim? Nisso o telefone toca e eu corro para atender. O sujeito limita-se a balançar a cabeça, como a dizer que não e a indicar que é você quem deve atender a chamada. Você vai e é Tsuy quem está na linha, olhamos os dois ao mesmo tempo e lá está ela, em prantos, com seu microcelular. O que Tsuy lhe diz? Você não me responde, nem olha para mim, tão entretida está na conversa com Tsuy, o sujeito me avisa que nós dois, eu e ele, não devemos nos envolver no diálogo de duas infelizes mulheres. Infelizes?, penso eu. Isso me irrita profundamente. 
O sujeito se levanta da cadeira e começa a andar na pequena sala que transformou em escritório. Sinto que ele está agressivo, senão agressivo, pelo menos insatisfeito, ou entediado, sei lá. Vamos fingir que não é conosco, você me aconselha e eu obedeço, por via das dúvidas é melhor obedecer a alguém do que correr todos os riscos sozinho. O sujeito para, pensativo. Em seguida, murmura algo como não posso transformar a pequena Tsuy num poço de sabedoria, para em seguida desmascará-la, seria óbvio demais. Você me olha e nós continuamos a conversar como se nada tivesse acontecido, talvez assim o sujeito pare um pouco de se angustiar com o futuro, pensamos juntos.
Eis que Tsuy sai do seu marasmo e fala diretamente com o sujeito. Em poucas palavras, quer que você tire a roupa, como ela, Tsuy, tirou para o seu amante Bill. Os dois continuam confabulando à nossa revelia. Eu não acho isso certo porque Tsuy é criação nossa, não do sujeito, mas você logo me pergunta e nós, quem nos criou para criar Tsuy? Vejo que você está mesmo contra mim, talvez para se defender da proposta de Tsuy, claro que se for o caso você fará a tal cena de sexo comigo, mas há de ser a contragosto, e isso talvez não agrade o sujeito, penso que no fundo o que ele deseja é colocar  alguma barreira entre nós dois, pode ser isso o que ele trama com Tsuy, coitadinha.
Não era. O sujeito parece que aceitou a proposta da pequenina e estava pronto para devolver a ela seu amante Bill, mas com uma condição, disse olhando em nossa direção, Tsuy dessa vez terá que estrangulá-lo de verdade ao final da orgia. Você arregala os olhos e eu tenho vontade de revelar que o sujeito está brincando com coisa séria, que talvez não passe de um facínora, ou um tarado, um sujeito, enfim, sem coração, vejo que você leva a mão ao peito e desvio os olhos para não ver sua cara de deboche, depravada, você, Tsuy e todas da sua laia, mas isso é o sujeito quem diz, dando vida provisória a um pedaço da trama que ainda escondia nas teias de seu cérebro.
Vamos ver o que ele pretende, você fala baixinho. Boa coisa não é, eu respondo, ou penso responder.

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