Imagine subtrair o cotidiano da vida das pessoas. O que é que sobra? Sobram os grandes temas: a filosofia, a existência, o sentido da vida, o amor. E, por falar em amor, também sobra ele, você sabe o quê:
- Pronto, já começou
- É que eu acordei de um jeito tão estranho hoje
- Só hoje? Sei...
- Não é isso que você tá pensando. O que você acha da liberdade?
- É um bairro bom, mas o aluguel tá caro demais
- Não falei do bairro, tava pensando na liberdade de atacar e defender
- Quê que você andou aprontando, Roberval?
- Aprontando nada, Lê, mas que mania...
- Quando começa com essas histórias, dá pra imaginar
- Minha dúvida é que tipo de liberdade quem se defende deve dar ao outro que ataca
- Antes ou depois de começar o ataque?
- Antes um pouco, quase na hora
- Se ainda não ficou clara a intenção, a liberdade deve ser total e irrestrita
- Sei... Aí o ataque vem com tudo e pega o outro de surpresa?
- Não disse isso... Na verdade, o ataque é sempre esperado, só não se sabe a hora exata em que vai acontecer ou se será fulminante, entendeu?
- Entender, entendi... Mas não sei se concordo
- Como não? Lembre-se que ninguém só ataca ou só se defende
- Isso é verdade, o que eu não concordo é com essa falsa ideia de liberdade que um dá ao outro
- Tem razão, muitas vezes é uma falsa defesa, só pra atrair e dar o bote
- Tem mais é que grudar, não dar espaço
- Grudar no outro, antes de o ataque começar?
- Claro, se defender já pensando no contra-ataque. Acha que a seleção do Dunga tem essa capacidade?
- Mas que seleção, Roberval?
- Ué, tava falando de futebol, ataque e defesa, coisa e tal... você não, Lê?
- Pensei que a gente estivesse conversando sobre relacionamentos, homem e mulher, entendeu?
- Ah, tá... Entendi. Vem cá
- Liberdade, ataque, defesa, contra-ataque... É sempre um jogo pra você. Tira a mão daí, agora não adianta mais. Você acordou diferente hoje, Roberval...