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Ok?

sábado, 23 de agosto de 2014

Tá na hora?

Fn

Você não quer saber pra onde vai o mundo?
Nem eu, muito obrigado...
Mas espere um momento, não saia assim tão rápido.
Eu sei que você tem pressa, quem não tem?
Mas precisava falar algumas coisas consigo.
Por exemplo, já se passaram alguns momentos e eu ainda não disse nada. 
Percebeu?
É nesse "nada" que mora o perigo.
Há uma urgência solta no ar. Como um vírus letal, contaminou a tal modernidade, que ninguém sabe direito o que é, nem para quê serve.
Só sabemos que é veloz, volúvel, implacável com divagações e pensamentos pouco práticos.
Os retardatários, ou seja, aqueles que não correm o que o mundo manda, levam na testa rótulos de "utópicos", "saudosistas", "anacrônicos". A maioria, resignada, concorda, mesmo sem saber direito o que é isso.
Mas, atenção! Urgência não é a mesma coisa do que pressa. A pressa é concreta; a urgência, teórica. A pressa empurra as pessoas no caixa do supermercado ou na entrada do metrô. A urgência provoca angústias, taquicardias e sentimentos de culpa, do tipo: "Preciso fazer  algo útil na vida e parar de ler essas bobagens na internet".
A pessoa que tem urgência está grávida da pressa. Sabe que alguma coisa, mais dia menos dia, irá acontecer, mas não sabe exatamente o que é. 
Talvez seja por isso que a angústia é o braço-direito da despótica e cruel ditadura do momento.
"Há um momento pra tudo na vida", diziam os antigos.
"Coisa de velho, não posso perder tempo pensando na vida. A hora é agora", respondem os mais jovens.
De certa forma, sempre foi assim. Mas em nossos dias o momento foi elevado à categoria de Imperador, com honras vitalícias. Esqueça o momento e vai ver se não passam solenemente a perna na sua pessoa. Te puxam o tapete no trabalho, te roubam a namorada, ou o namorado (ou os dois, conforme o momento...)
O momento, hoje, é fonte de renda para os espertos da auto-ajuda, que não se cansam de escrever e proferir palestras sobre a relativa inutilidade do passado e os males de se tentar viver no futuro. Sobra o quê? Ele, o grande ditador dos tempos modernos, o momento.
Pra você ver que eu não estou brincando, considere a frase: "O momento atual exige que se pense em profundidade, que se analise a crise e suas dramáticas conseqüências". Quem está por trás da sutil ameaça? O momento atual, é claro. Lembre-se o momento é o mesmo de sempre. "Atual" é só a roupa que ele usa no momento.
Não se convenceu ainda? Então, que tal estas outras: "O momento necessita de calma e ponderação"; "O momento exige energia e determinação", "O momento não está para brincadeiras..." Alguma dúvida sobre quem manda de verdade? 
Não ria. Somos todos escravos, súditos do momento.
Pegue o telefone e ouça: "No momento, todos os nossos atendentes estão ocupados".
Vire-se na cama e pergunte: "Foi bom pra você?"
Pode escutar:
"Já?! Espera um momentinho... por favor".
Melhor vai ser quando ouvir:
"Gostaria de guardar esse momento para sempre"
Olha o futuro atropelando o momento que acabou de passar...

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