CARTA FECHADA

Estimada Dra. C.

Mais uma vez tomo a liberdade de escrever-lhe uma cartinha para solicitar sua intervenção junto ao truculento Bill e à execrável diretoria deste estabelecimento corretivo mental.
Trata-se, imploro, de negociar a volta de Aurélia a seus atributos e afazeres, da forma que ela, Aurélia, bem entender, cancelando-se a demissão por justa causa e adicionando-se um pedido de desculpas formal pelo mal-entendido, que foi o flagrante armado contra ela, coisa e tal...
Dra. C., creio que Aurélia tinha a melhor das intenções com aqueles atos libidinosos interrompidos, aos quais me referi em outra oportunidade. Que intenções eram essas? Pois muito bem, tratava-se de um treinamento contra a ejaculatio praecox, que tanto aflige a homens diretamente e a mulheres indiretamente, se é que me entende.
As coisas por aqui andam em permanente estado de ebulição: Bill soca as paredes e nos ameaça com uma corrente de ferro fundido, algo assim; um dos diretores, dizem, foi pego de cueca branca e meias pretas, atente para o mau gosto, tentando pular o muro para invadir o alojamento feminino, sabe-se lá com que intenções, tudo isso entre outras bizarrias. Por que? Qual o motivo? (aqui a palavra "razão" tem seu uso limitado e só é liberado com parcimônia para aqueles que tomam regularmente seus medicamentos). 
Só há uma explicação, creio eu: a ausência de Aurélia, eu mesmo comecei a escrever um romance com este título: "A Ausência de Aurélia", o que acha, dra. C., a senhora que é tão brilhante em suas narrativas e devaneios?
Certo de sua compreensão e sempre no aguardo de uma visitinha despretensiosa, despeço-me com todo o respeito e sinceros votos de sucesso.

Assinado: Escrivão Isaías
Testemunhas: D'Oliveiros e Arnaldão