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quinta-feira, 28 de julho de 2022
MANHÃ DE DOMINGO
Manhã de domingo
f.n.
A tristeza vinha de dentro,
mas não era uma coisa minha, ou só minha,
resultado de alguma desilusão.
Na verdade não era sequer a estranha sensação
de saber que a mulher que eu amava
estava ficando cada vez mais no passado,
perdida, intocável...
Mas não só por isso eu deveria deixar de amá-la.
A tristeza era um desânimo,
algo que gruda a gente na cadeira da varanda
e prega nossos olhos no recorte das montanhas.
Pra descolar é preciso muito mais
do que lembranças - singelas, confusas -
entrelaçadas com o que nunca aconteceu.
Fico pensando: “O que as palavras têm a ver com tudo isso?”
Se estamos presos a esse tempo que a vida envolve.
A tristeza vem de dentro.
E você quase descobre a razão,
olhos semi-cerrados tingindo de cinza a paisagem...
Um raio de sol pontilhado raspa a córnea, a retina, o cristalino, essas coisas que, uma vez juntas, você usa como janela de todas as tristezas que diz ter aí dentro.
Eu e você estamos prestes a entrar em alfa.
Vão ficando para trás a cadeira, a varanda, o sol em raios...
Decresce a estação, já antiga em seus novos bancos,
seu implacável relógio .
Desaparece o trenzinho de corda,
o apito na curva...
É tudo um sonho.
Nessa hora alguém te sacode e rosna:
“Acorda... Vem matar o porco!”
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