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Ok?

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Educação: a pergunta certa na hora errada?

Não sou professor, não trabalho na área da educação, nem pretendo me tornar especialista em tema tão complexo . No que diz respeito ao ensino, o melhor que faço é continuar aprendendo.
Foi com essa visão, de cidadão comum, que resolvi dar alguns "pitacos", porque, afinal, educação é algo que interessa a todos nós.
Antes de mais nada, é preciso dizer com todas as letras que não há descoberta salvadora. Acredito que a cura para os males da educação, no Brasil e no mundo, passa por uma profunda modificação do modelo que as sociedades projetam para si mesmas. Simplificando: enquanto os ícones do sucesso estiverem centrados na aparência, será muito difícil, ou quase impossível, convencer a maioria dos jovens a pelo menos levar em conta o caminho do conteúdo.
Neste ponto, para fugir da dicotomia algoz versus vítima, para não perder tempo procurando culpados a punir ou demônios a exorcizar, lembremos, por exemplo, que a mídia exibe o que dá retorno. Alimenta, sem dúvida, a superficialidade, a simplificação, a adoração da beleza aparente, mas é também por elas alimentada. E de nada adianta sentir saudades do tempo em que BBB era só Bom, Bonito e Barato.
Em nossos dias, há inúmeras rupturas, verdadeiras crateras que a vida, infelizmente, não ensina a saltar. Querem um exemplo? Aí vão dois:

· A sedutora tecnologia, com seus extraordinários avanços e múltiplas facilidades, quando usada sem objetivo ou com objetivos escusos, no que se converte?

· Modelos de relacionamento ultrapassados e ineficientes põem em choque, em proporções nunca vistas, adultos e jovens, das mais variadas faixas etárias e de todas as classes sociais. Não há fórmula mágica para reaproximar pais e filhos, professores e alunos.

Recusar os avanços tecnológicos, usá-los com preconceitos saudosistas, em tese corresponde à atitude dos operários que, na Revolução Industrial, quebravam as máquinas que lhes "roubavam" os empregos. No entanto, a ação de educadores tem se limitado a criar barreiras para impedir a simples cópia e reprodução de textos e trabalhos da internet, o famoso "CTRL C - CTRL V". Mas uma geração, que usa 24 horas por dia a linguagem da tecnologia, que só se interessa pelo que se "movimenta", para quem a interação é ponto de partida e não de chegada, uma geração como esta não é igual às anteriores, nem irá responder aos mesmos estímulos, digamos, defasados.
E o professor? Pode ser o mesmo?
Informatizar escolas rende votos, mais nada. Os resultados não vão muito além dos belos vídeos de propaganda eleitoral, onde crianças pobres descobrem e ingressam no maravilhoso mundo da tecnologia e aprendem a ... tc no msn, criar um perfil no Orkut, assistir a vídeos no Youtube, baixar músicas, montar um fotolog... Vejam bem: não sou contra, apenas acho que não é essa a idéia salvadora, que, por falar nisso, não existe, estão lembrados?

A partir do livro do professor norte-americano Mark Bauerlein, que classifica os jovens de hoje como a mais burra geração de todos os tempos, deverão surgir novos debates, críticas e aplausos ao uso da internet, do celular, do Ipod, dos vídeo-games, etc. Some-se a isto a opinião do escritor e filósofo italiano Umberto Eco, que considera o excesso de informações no presente fator capaz de inibir a reflexão sobre o passado. Talvez o volume e a velocidade com que essas informações são processadas diminuam mesmo a capacidade de aquilatar o que é mais ou menos importante, dificultando o que poderíamos chamar de escolha consciente. Mark Bauerlein acha que a "burrice" vem da incomunicabilidade entre jovens e adultos. Umberto Eco teme pela perda da cultura acumulada durante séculos e hoje muito pouco "visitada". Mas a velha pergunta está de volta: remar contra a corrente vai nos levar a que porto seguro?

A simples menção ao tema do ensino traz consigo uma enorme variedade de problemas, de naturezas diversas: os baixos salários dos professores; a indiferença dos alunos; a falta de condições materiais das escolas, sobretudo as da rede pública; a ausência de programas de treinamento permanentes para aparelhar e capacitar o magistério; o afastamento da comunidade; a violência entre os jovens das chamadas periferias; a omissão e o despreparo das autoridades policiais; a inadequação dos currículos escolares; o uso de métodos de ensino ultrapassados e paternalistas, quando não autoritários; a hipocrisia dos políticos, que procuram tapar o sol com a peneira ao invés de deixar que os verdadeiros problemas venham à tona; a atitude de avestruz da sociedade como um todo, que prefere fechar os olhos e ignorar a bomba-relógio que carrega no colo.

A pergunta só pode ser uma: ATÉ QUANDO?
A hora é errada, pois já deveria ter sido formulada e respondida há muito tempo.

Ameaçar, punir, reprovar, comprovadamente não eleva o nível do ensino. Tampouco age para melhorar este nível a política de tratar com igual benevolência o joio e o trigo; o agrião e a cicuta.

Somente professores motivados e bem treinados podem motivar e treinar com êxito seus alunos. Mas para isso será preciso também conhecer e participar do universo a que eles pertencem. Arrisco-me a dizer que a escola é, não só o primeiro, mas também o mais importante espaço da convivência em sociedade. Funciona para crianças e jovens como o trânsito para os adultos: é preciso respeitar os direitos alheios, reivindicar os seus, aceitar as diferenças, agir segundo normas por todos aceitas, enfim, conviver pacificamente. Somente a partir de um bom convívio na escola é que será possível melhorar a qualidade do ensino em geral.

Música, humor, movimento, interatividade, recompensa ao invés de castigo... Estas são algumas das ferramentas que podem ser testadas para modificar a visão negativa que grande parte dos alunos tem hoje de suas escolas, sejam elas públicas ou particulares. Como fazê-lo é tarefa que está acima das minhas possibilidades, pois, como lhes disse, não sou do ramo, apenas me dou o direito de opinar, sugerir, e o dever de não lavar as mãos.

* Recebi dois comentários da Loli e da Sarah, que trabalham com educação. Achei que mereciam ser lidos e resolvi postar, com a autorização de ambas, é claro:
Sarah disse:
"Fernando, li seu artigo e posso dizer, que certamente Paulo freire que considero o maior escritor da educação iria aplaudi-lo.....é tudo isso que você escreveu mesmo, mas como em educação tudo acontece a longo prazo, estamos nesse caminho, uma escola que seja reflexiva, que não seja comandada do exterior, seja autogerida. Precisamos formar cidadãos capazes de mobilizar os saberes para agir nas diferentes situações. quando se trata das TIC. ( tecnologia da informação e comunicação) é preciso ter competência de acesso, avaliação, e gestão de informação oferecida, para que se tenha uma formação holistica integrada...GOSTEI MUITO . Parabéns!!! acho que me empolguei aqui no assunto.rsss"
E o de Loli é:
"Quero mais uma vez agradecer-te pelo excelente texto que escreveste ! Depois de lê-lo com mais calma e me distanciando das emoções (professora da rede pública em situação de greve), percebi que foram ótimas as tuas colocações. Conseguiste abranger o tema de forma perfeita e sem esquecer-te de nenhum detalhe. Perdoe-me se, num primeiro momento, fui dura demais nos comentários que teci a respeito.

Gostaria de me explicar ao menos em um ponto no qual sou contrária ao teu ponto de vista. Por exemplo, no trecho: "ameaçar, punir, reprovar, comprovadamente não eleva o nível do ensino.". Não vejo reprovação como forma de punição e sim como um meio de acrescentar ao aluno algum conteúdo relevante, que por algum motivo, ele não tenha conseguido assimilar.
Há aproximadamente treze anos, não reprovamos mais os educandos do ensino fundamental da rede pública, ou seja, de 1ª a 8ª séries, somente na mudança de ciclos 4ª e 8ª séries é que há reprovação. Imagine o que isto significa: um aluno que não sabe ler, nem escrever, é aprovado continuamente até chegar à 4ª série, na 4ª série por sua vez, ele somente poderá ser reprovado uma única vez, isso quer dizer que, mesmo que o educando não recupere o que não foi aprendido, automaticamente será aprovado para a série seguinte e assim por diante. Outro problema que se agrava é a formação do "analfabeto funcional". O analfabeto funcional é aquele indivíduo que sabe ler e escrever, mas devido a sua deficiência de aprendizado, não tem capacidade de interpretar o que lê (esses são os futuros cidadãos e eleitores do nosso país).
Bem, eu teria inúmeras outras questões e reclamações sobre o sistema de ensino público, porém não quero estender-me demais e tornar-me cansativa. No entanto, não poderia terminar esse texto sem demonstrar minha profunda indignação quanto ao fato da sociedade (também me incluo aí) aceitar esse "lixo" (desculpe a palavra) que é a educação nas escolas públicas !"




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