Na era do exibicionismo, em que predominam os reality-shows, os fotologs e blogs sem assunto (talvez como este que o distinto lê no presente instante), a indústria dos cosméticos, a moda, as lipo e, acima de tudo, o vil metal, em tempos como esse nosso, o conteúdo anda cada vez mais desprezado, o ser cada vez mais esquecido. O que vale, só o que vale, é a aparência.
Nada mais compreensível: ninguém mostra o que é. Mostramos a casca, a embalagem: bem vestida, penteada, maquiada, bem cuidada. Na melhor das hipóteses, alguém mostra o que pensa que é por dentro. Vai saber o que há dentro desse dentro...
A ditadura da aparência veste como uma luva a moral interesseira. Todos querem saber o que vão ganhar, quanto vão ganhar, quem é que vai pagar. Acho que vem daí o sucesso estrondoso do lixo da auto-ajuda. Seus leitores devem pensar assim: “Já que eu vou perder meu tempo lendo alguma coisa, quero saber o que vou receber em troca, caso contrário, ligo a TV e assisto às novelas das seis, das sete, das oito...”
A sensação é de que o vazio vai crescendo, tomando conta de tudo. É o nada preponderando, avassalando o ser. Paradoxal? Pode ser... ou não ser, pouco importa. Mas convém lembrar: "Pode não ser" não é a mesma coisa do que "Pode nada", concorda?
Melhor se convencer de uma vez: “você é o que você tem”. Mas não se esqueça de chamar os amigos pra ver. A aparência soberana precisa de platéia; quanto maior, melhor.
Se ninguém te visitar, pendura o Rembrandt na área de serviço, só cuidado com a QBoa.
P.S. Mal postei e recebo uma mensagem psicografada by email. Um sujeito, que se diz meu amigo, revela ter sido "autoajudado" por esse texto aí em cima. Pode? Não sei se agradeço a leitura e o elogio, se ignoro a gozação ou se entro no blogger e deleto a postagem. O que vc acha? Estou esperando as suas vibrações telepáticas ou, na falta delas, um emailzinho com seu inestimável voto.