atebrreve@gmail.com

Ok?

quinta-feira, 28 de agosto de 2008








fn
Querida amiga, sei que estou em falta com a sua pessoa, mas, embora não pretenda um perdão incondicional, o motivo é relevante.
Estava eu, dias atrás, na fila do caixa de um hipermercado, nacionalmente famoso por suas falsas promoções, quando uma senhora ainda jovem e esbelta, pra ser mais exato, perfeitamente comível e saboreável, tomou-me a frente e depositou suas compras na correia que conduz ao cadafalso, que vem a ser aquele scanner que registra o valor das compras.
Muito solícita, a funcionária passou um a um os itens que a mulher escolhera. Lá se foram a alcachofra, a rapadura, o óleo de linhaça... essas coisas, enfim, que qualquer um precisa ter em casa. Ao final, percebi que a mulher esquecera no balcão um maço de cheiro-verde. Muito educadamente, como é do meu feitio, perguntei: "Minha senhoura, posso tirar sua salsinha?" Pra quê??? A mulher entendeu errado, provavelmente trocou o "s" por um "c", sem cedilha. Ato contínuo acertou-me a testa com o pacote de sabão-de-coco e ainda por cima saiu aos gritos de "Indecente, indecente...!"
Amiga querida, faltou pouco para que levassem este pobre escriba em cana por atentado violento ao pudor. Salvou-me a funcionária do caixa, com seu depoimento, garantindo que a mulher se enganara quanto à peça a que eu me referi. De qualquer forma, restou-me um inchaço acima do olho direito e a certeza de que não devo tirar coisa alguma de mulher nenhuma, a não ser que me peçam encarecidamente.
A propósito, eu sei que a menina aprecia um quiabo com a sua baba natural, refogadinho no alho, cebola e tomate... A minha dúvida é se coloco o cheiro verde no final ou se, no caso do quiabo, é melhor deixar a salsinha de fora, no bom sentido, é claro...


ABUTRES S/A
fn
NA GANGORRA


ATO I

- E daí? Apertou o cara?
- Apertei.
- E ele?
- Rateou, Chefe.
- Rateou como?
- Não quis falar.
- E você? Apertou mais um pouco?
- Apertei, Chefinho. Mesmo assim ele não quis falar, ficou se esquivando.
- Se esquivando como?
- Nhem-nhem-nhem, hã-hã, hmm-hmm... essas coisas.
- E você?
- Perdi a cabeça, Chefe.
- Lurdinha?!
- Disse que se ele não falasse, a gente ia cortar a língua dele.
- E???
- Ele não falou, Chefe. Aliás, não falou e não fala nunca mais.
- Lurdinha, você arrancou a língua do cara?
- Eu não, Chefe. Ataíde se encarregou de tudo.
- E agora, Lurdinha? Ainda bem que o cara pode escrever...
- Pode não, Chefe. Ataíde também quebrou, triturou as duas mãos do coitado.
- Puta que o pariu, caralho!!! E agora, como é que vou fazer?
- Sei não, Chefe. Sei que o Ataíde mandou buscar a mulher do cara.
- Ainda bem... Ela sabia de alguma coisa?
- Se sabia, nem deu tempo de perguntar.
- Como assim, Lurdinha? Não me assuste...
- Chefe, sabe aquele jeito tarado do Ataíde? Pois é, se apaixonou à primeira vista pela mulher do cara.
- E ela?
- Era mais ou menos, nem muito gostosa nem mocréia total.
- Não foi isso que eu perguntei. Quero saber o que ela disse.
- Ah... Falou que jamais transaria com o Ataíde porque ele era feio demais. Feio por fora e mais feio ainda por dentro.
- Tem razão.
- Quem, Chefe?
- A mulher do cara, porra... Ataíde é o demo encarnado no belzebu.
- Não fala assim que ele pode escutar, Chefe. Vai que ele tá ali atrás da porta.
- Conta logo o que ele fez.
- Arrancou dois dentes da pobre, sem anestesia. Disse que o avô tinha sido prático e deixou de herança um boticão enferrujado.
- E a mulher? Não gritava?
- Gritava, chorava, esperneava, xingava... De nada adiantou. No final, Ataíde pegou um espelho, pôs bem na frente da cara dela, com o sangue escorrendo pelo queixo, e tripudiou: “Tá vendo agora quem é feio pra caralho?”
- E você, Lurdinha?
- Eu? Não me acho tão feia assim...
- Não é isso, porra... Perguntei o que você fez, o que sentiu, entendeu?
- Sabe, Chefe, às vezes sinto um pouco de medo do Ataíde.
- Um pouco???
- É, ele é meio intransigente, revoltado, sei lá...
- Essa é boa: “Intransigente, revoltado...” A violência do Ataíde não tem dinheiro que pague.
- Ah, por falar em dinheiro, o Ataíde me mandou aqui pra saber quando sai a grana, Chefe.
- Grana??? Vocês cortam a língua do cara, deixam a mulher desdentada, não descobrem porra nenhuma e ainda me falam em grana???
- Eu sei, Chefe... Também disse pro Ataíde que a gente fez errado, devia ter cortado a língua da mulher e arrancado os dentes do cara. Ela tá lá até agora, falando pelos cotovelos, enchendo os ouvidos do Ataíde, se é que ainda não aceitou as propostas dele.
- A desdentada? Ataíde gosta?
- Isso é bobagem, Chefe... Hoje em dia tem implante, prótese... Só doeu na hora de arrancar, mas ela é mulher e esquece rápido.
- Não ficou com ciúmes, Lurdinha?
- Do Ataíde? Só me faltava essa...
- Por que? Ele não é bom pra você? Ataíde te maltrata, Lurdinha?
- Só às vezes, mas não é nada como cortar a língua ou arrancar os dentes no seco
- Maltratar é sinal de carência. Não sabia que o Ataíde era assim.
- Carente? Aquilo é um poço de ciúmes e desejos.
- Quando ele sente ciúmes de você o que é que ele faz, Lurdinha?
- Uma vez apertou meus biquinhos com a torquez.
- Uiiii...
- Não foi muito forte, nem chegou a sangrar, só doeu pra caralho.
- Você gritou de dor?
- Gritei, xinguei, chamei ele de filho-da-puta... Veio até vizinho bater na porta.
- E o Ataíde?
- Saiu só de cueca no corredor do cortiço, com a torquez na mão, perguntando com aquele vozeirão que o senhor já conhece: “Quê que foi? Nunca viram discussão de marido e mulher?” Todo mundo fugiu... hahaha
- Ciumento mesmo, esse Ataíde... De quem é que ele desconfiava, Lurdinha?
- Do senhor, Chefe.
- De mim??? Logo eu?
- Achava, talvez ainda ache, que o senhor tem muita intimidade comigo, Chefinho.
- Poxa... Nunca houve nada entre nós.
- Só aquela vez, lembra?
- Certas coisas nem é bom lembrar... Vamos pôr uma pedra no passado, dona Lurdes. Agradeço muito a sua visita, mas tô precisando resolver uns problemas, sabe como é...
- E aquele negócio? Quê que eu falo pro Ataíde?
- Que negócio? Não me assuste, não me assuste...
- Calma, Chefinho... Tava falando da grana. O senhor vai pagar ou não vai?
- Tá aqui, dona Lurdes... Em dinheiro vivo. Entrega pro Ataíde e diz que eu agradeço muito. Quando precisar novamente, eu ligo pra ele.
- Tá certo, patrãozinho.
- Então, tá...
- Posso pedir só mais uma coisinha?
- Fala, dona Lurdes, mas seja breve, seja breve.
- Não conta pro Ataíde que o senhor me pagou, tá? Ele vai querer tudo pra ele e eu tô precisando de umas roupinhas, um sapatinho vermelho. Deixa que depois eu me acerto com ele, combinado?

ATO II

- Chefe, o senhor deu dinheiro pra aquela vaca?
- Como vai, Ataíde? Tudo bem?
- Deu ou não deu, Chefe? Com todo respeito...
- Dei, Ataíde... Ela jurou que ia dividir com você.
- Dividir comigo??? Aquela puta???
- Não fale assim, Ataíde. Afinal ela ainda é sua esposa.
- Esposa é o caralho, nunca me casei com a vagabunda, com todo respeito...
- Ah, bom...
- Bom, o quê?
- “Bom”???? Eu disse: “Ah, não?” Pensei que eram casados.
- Que importância tem isso agora, Chefe? Vai dizer que o senhor também comeu a infeliz?!
- Eu???? Logo eu???
- Já vi que comeu... Pois fique sabendo, se o senhor não tem a informação que pediu, agradeça a ela.
- À dona Lurdes? Como assim?
- Ela mesmo, a puta da Lurdinha enfiou um dedo no olho da mulher do cara, só por ciúmes. Doutor, mais um pouco e eu faço picadinho dessa piranha, espremo a Lurdinha toda na máquina de moer carne, começando pelo dedo mindinho, é só o senhor mandar.
- Eu??? Logo eu? Ataíde, não me diga que dona Lurdes cegou a outra...
- Digo e provo, vai lá no cafofo pra ver. Sorte da mulher que ficou só caolha. Ainda tive tempo de segurar a vaca da Lurdinha, antes que ela enfiasse os dedos nos dois olhos da pobre.
- E o cara, Ataíde?
- Bom, esse ficou por minha conta. Dei uns apertões, achei que não demorava muito e ele ia contar tudinho.
- Contou?
- Não deu tempo, chefe. Lurdinha pegou meu facão de cortar pau de vagabundo, puxou a língua dele pra fora e... slept, saiu com a língua na mão. O infeliz tá mudo para sempre.
- Lurdinha fez isso, Ataíde?
- Não só fez como ainda saiu rindo, vê se pode tanta crueldade...
- Até parece mentira.
- Tá me chamando de mentiroso, Chefe?
- Tô não... Deixa pra lá.
- Posso não... Se o senhor pagou a maldita, seu dinheiro foi pro ralo, entendeu?
- Entendi, Ataíde.
- Tá vendo a minha mão, abertinha aqui na sua frente?
- Tô vendo, Ataíde.
- Vou fechar os olhos pra não ver o senhor contando a grana, Chefe. Tem que ser pelo menos o dobro do que o senhor deu pra ela.
- Tá certo, Ataíde, tá certo... Me responde mais uma coisa.
- Pois não, Chefinho.
- Foi você que quebrou as duas mãos do cara?
- Isso foi, não posso negar.
- E por quê?
- Momento de fraqueza, Chefe. O cara tava olhando a bunda da Lurdinha e coçando os bagos. Daí quebrei as duas mãos pra ele nunca mais apalpar nada, principalmente os próprios colhões...

ATO III

- Chefe, tem um casal aqui embaixo querendo subir pra falar com o senhor.
- Quem são eles, Juvêncio?
- Sei não, doutor. A mulher usa um tapa-olho e põe um lenço na frente da boca; o cara não fala nada, parece que é mudo, e tá com as duas mãos engessadas. Ela diz que tem uma grana pra receber. Se o senhor não pagar, vai entrar no Pequenas Causas. Olha só, tá dizendo que vai tirar uma grana do senhor pra cobrir perdas e danos morais e materiais, já tem até adevogado, doutor.
- Tava demorando...
- Doutor, será que eles não são cúmplices dos outros dois? Juro que já vi os quatro juntos no boteco do Osmar.
- Pode ser, nessa vida tudo é possível, Juvêncio...
- E então? Deixo subir?
- Deixa, Juvêncio, deixa... Aproveita e vem você também. Tenho umas gratificações pra acertar contigo, hoje é meu dia de carniça mesmo.


(Claro que continua, mas não aqui, nem agora...)

Seguidores

Arquivo do blog

Ahn...?

Minha foto
Filial do Eu, Liquidação de Neurônios, Churrascaria Almaminhadealcatra Dúvidas, críticas, reclamações, elogios? atebrreve@gmail.com