fn

- O que é que a senhora tem?
- Sei lá...
- Como não sabe???
- Ué... O senhor é o médico, eu que vou saber?
- Não é isso, perguntei o que está sentindo, os sintomas...
- Ah, bom... Uma dorzinha aqui, ó...
- Faz quanto tempo?
- Desde ontem de tardezinha.
- Começou a doer ontem de tarde e a senhora conseguiu consulta pra hoje de manhã? Não sabia que o SUS tava tão bom assim.
- Não é o SUS que é rápido, a consulta já tava marcada há um ano e meio. A dorzinha é que de ontem.
- Ah, bom...
- Bom porque não é o senhor que tá sentindo.
- Verdade... Não costumo sentir essas coisas "aí".
- Nem pode, né? Mas bem que eu gostaria de cuidar das suas dores...
- Verdade? Vamos deixar de conversa mole que o tempo é curto. Pode ir tirando a roupa e deitando ali na maca.
- Como assim? Não vamos conversar um pouco antes, doutor?
- Conversar pra quê? Eu quero sentir, quer dizer, eu quero ver onde é que está doendo, o que a senhora sente quando eu apalpar, entendeu?
- Entender, entendi... Mas não concordo.
- Não concorda com quê, minha "senhoura"?
- Vai começar com esse negócio de "senhoura", é? Me chama de Linda.
- Linda, é o seu nome?
- É Deolinda, mas eu odeio esse Deo, entendéo?
- Ahahaha... Até que você é bem-humorada, dona Deolinda.
- Tira o "dona" e o "Deo", me chama de Linda. Diz assim: "Linda, deita aqui, meu anjo..."
- Tá bom... Linda, deita aqui, meu anjo.
- Deito, prometo... Mas só depois de uma conversinha.
- Ai, ai, ai... Lá vem você de novo. Que raios de conversa que você quer ter?
- Tipo assim: O senhor tem namorada, doutor?
- Sou casado, há uns nove, dez anos.
- Nem sabe ao certo há quantos anos tá casado, homem é tudo igual mesmo...
- O que mais, Linda?
- A sua mulher não sente ciúmes?
- Ciúmes do quê? Não tem motivos pra isso.
- Não tem motivos? Sei...
- Sabe o quê?
- Sei que ela deve estar com uma dorzinha parecida com a minha, só que em outro lugar.
- Que lugar?
- Na testa, em dois lugares, bem aqui, ó...
- Você acha que ela precisa sentir ciúmes de mim?
- Sei lá... Agora chega de conversa. Já tirei a roupa, tô prontinha pro exame, quer que eu deite?
- Pode deitar, fazendo o favor... Veio sem nada por baixo, Lindinha?
- Claro, com o calor que tá fazendo, queria o quê?
- ...
- Espera, tranca a porta do consultório. Aquela enfermeira morena tem um ciúme louco do senhor, dr. Tiago.
- Eu sou dr. Rubens, Rubens Albuquerque.
- Ah, é... Desculpa, O Tiaguinho vem às terças e quintas, hoje é sexta.
- É aqui que dói?
- Mais pra baixo um pouquinho...
- Aqui?
- É, tá sentindo?
- ...
- Bem aí, Rubinho... Devagar, tá...?
- Sei lá...
- Como não sabe???
- Ué... O senhor é o médico, eu que vou saber?
- Não é isso, perguntei o que está sentindo, os sintomas...
- Ah, bom... Uma dorzinha aqui, ó...
- Faz quanto tempo?
- Desde ontem de tardezinha.
- Começou a doer ontem de tarde e a senhora conseguiu consulta pra hoje de manhã? Não sabia que o SUS tava tão bom assim.
- Não é o SUS que é rápido, a consulta já tava marcada há um ano e meio. A dorzinha é que de ontem.
- Ah, bom...
- Bom porque não é o senhor que tá sentindo.
- Verdade... Não costumo sentir essas coisas "aí".
- Nem pode, né? Mas bem que eu gostaria de cuidar das suas dores...
- Verdade? Vamos deixar de conversa mole que o tempo é curto. Pode ir tirando a roupa e deitando ali na maca.
- Como assim? Não vamos conversar um pouco antes, doutor?
- Conversar pra quê? Eu quero sentir, quer dizer, eu quero ver onde é que está doendo, o que a senhora sente quando eu apalpar, entendeu?
- Entender, entendi... Mas não concordo.
- Não concorda com quê, minha "senhoura"?
- Vai começar com esse negócio de "senhoura", é? Me chama de Linda.
- Linda, é o seu nome?
- É Deolinda, mas eu odeio esse Deo, entendéo?
- Ahahaha... Até que você é bem-humorada, dona Deolinda.
- Tira o "dona" e o "Deo", me chama de Linda. Diz assim: "Linda, deita aqui, meu anjo..."
- Tá bom... Linda, deita aqui, meu anjo.
- Deito, prometo... Mas só depois de uma conversinha.
- Ai, ai, ai... Lá vem você de novo. Que raios de conversa que você quer ter?
- Tipo assim: O senhor tem namorada, doutor?
- Sou casado, há uns nove, dez anos.
- Nem sabe ao certo há quantos anos tá casado, homem é tudo igual mesmo...
- O que mais, Linda?
- A sua mulher não sente ciúmes?
- Ciúmes do quê? Não tem motivos pra isso.
- Não tem motivos? Sei...
- Sabe o quê?
- Sei que ela deve estar com uma dorzinha parecida com a minha, só que em outro lugar.
- Que lugar?
- Na testa, em dois lugares, bem aqui, ó...
- Você acha que ela precisa sentir ciúmes de mim?
- Sei lá... Agora chega de conversa. Já tirei a roupa, tô prontinha pro exame, quer que eu deite?
- Pode deitar, fazendo o favor... Veio sem nada por baixo, Lindinha?
- Claro, com o calor que tá fazendo, queria o quê?
- ...
- Espera, tranca a porta do consultório. Aquela enfermeira morena tem um ciúme louco do senhor, dr. Tiago.
- Eu sou dr. Rubens, Rubens Albuquerque.
- Ah, é... Desculpa, O Tiaguinho vem às terças e quintas, hoje é sexta.
- É aqui que dói?
- Mais pra baixo um pouquinho...
- Aqui?
- É, tá sentindo?
- ...
- Bem aí, Rubinho... Devagar, tá...?

O autor de um livro bem sucedido no campo da iniciação à filosofia escreve, com ares de quem tem nas mãos a verdade, a pura e insofismável verdade:
"Não há como fugir da pergunta se existe ou não vida após a morte. A resposta tem que ser: sim ou não; existe ou não existe."
Fiquei pensando. Concluí que "antes" e "depois" são conceitos humanos, projeções que o homem utiliza no processo do conhecimento. Tão humanos quanto "causa" e "efeito", "finito" e "infinito", "universal" e "particular", etc. Não quero dizer que eles não existam sem o conhecimento, apenas destaco que ao se referir ao tempo "após a morte", o homem foi retirado do contexto e, portanto, não tem sentido falar em "antes" e "depois", que são conceitos que utilizamos para compreender o mundo em que vivemos. Não se pode falar em "antes" ou "depois" num mundo em que os homens estão mortos e, portanto, nada conhecem, pelo menos não com as ferramentas dos vivos.
Por essas e outras é que eu continuo um "agnóstico puro sangue". A existência ou não de vida após a morte é uma questão que pode ser respondida pela fé, pelo medo, por uma pretensão desmedida que assola a espécie ou através de dogmas religiosos. Jamais será respondida no campo do conhecimento humano.
QED?
OBS.: Sócrates lá em cima tá só pensando, não tem nada a ver com isso, ok?