
O Barqueiro
Certos dias são iguais na memória.
Outros, uns poucos, se diferem,
ganham seu cantinho,
pequeno é verdade, mas exclusivo.
Por isso nos vêm à mente com um certo brilho,
mesmo que nada de mais lhes tenha acontecido.
São dias e noites que nos escolhem,
prendem-nos,
amarram nossas mãos,
atam nossos pés,
como a gritar, arrogantes,
que jamais será possível mudá-los.
Quando se afastam novamente
e se recolhem lá no tal canto,
sempre por livre e espontânea vontade,
ainda assim sabemos que não os dominamos,
não nos libertarão até o fim
de todas as dezenas, centenas, milhares
de manhãs luminosas e madrugadas frias.
Os dias, nem todos passam,
só aqueles que não têm passado.
Estes sim parecem iguais
a tudo que a vida não viu de diferente.
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