Meu túnel não é esse, sem atalhos nem desvios, por onde, arrogante, passa o clamor dos invencidos. Meu túnel não é esse, de fêmeas recatadas e machos evasivos, de sanidades sem afrontas, avesso a qualquer revolta, sobretudo à que do nada brota e nele fenece. Esse túnel, de limpos ladrilhos reluzentes, nem túnel precisa ser, é da superfície a sua índole. Por ela trafega como um fim em si mesmo. As curvas ali nos embalam, suaves, previsíveis, jornada sem tormentas, alimentando as entranhas desse mundo luminoso dos cordeiros. Meu túnel não é esse, descritivo, conformista, rotineiro. Por certo, como em todo túnel, nesse há também uma luz em seu final, mas a esperança, convenhamos, é só aquilo que não podemos esperar.
Ilustração: turquoisephoenix