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Ok?

domingo, 17 de janeiro de 2010

The Invisible Guy

Fn


Fui ao shopping. "Grandes novidades", dirão vocês que passam horas dentro daquela catedral de futilidades, oráculo do charme, a um preço nada supérfluo. Acontece, digo eu, que não consegui atravessar uma daquelas portas que se abrem automaticamente. Tentei uma, duas, três vezes e... nada! Quase enfiei a cara no vidro da loja. "A porta estava com defeito", pensarão vocês, entendidos nessas armadilhas consumistas. Tava não, digo eu, tanto é assim que logo uma linda mamãe, acompanhada por sua babá e seu bebê, ou melhor, por seu bebê com sua babá, caminhou resoluta em direção à loja, a porta se abriu e lá se foi ela mergulhar no vício. "Aproveitou a brecha e entrou no vácuo da mulher?", perguntarão vocês inadvertidamente. Eu?!, responderei, abismado com a vossa insensibilidade. Em primeiro lugar, saibam que não se deve aproveitar a brecha para entrar no vácuo de uma senhora que sequer conhecemos, quê qué isso, minha gente? Em segundo lugar, não tenho esse lado prático da vida tão aguçado na minha singela pessoa. Não aproveitei brecha nenhuma, não entrei no vácuo coisíssima nenhuma. Tentei novamente e... NADA! "Por que não pediu ajuda ao segurança?", quererão saber vocês. Pois aí acertaram em cheio. Escolhi uma segurança de boa aparência e feição amigável e expliquei o que se passava, ou melhor, o que não se passava. "A mulher foi até a loja, descobriu que era um defeito no chip da porta e, finalmente, você conseguiu entrar?", sugerirá algum dos distintos. Qual nada, direi eu, a mulher não me ouviu, ou fingiu que não me ouviu, pois virou as costas e sumiu naquele ambiente de luzes, espelhos, escadas móveis, comerciantes aflitos e cliente lindas e mal-humoradas, nem todas é bem verdade. Ainda tive tempo de ler o seu crachá: Laura - Auxiliar de Serviços Gerais. Nem segurança a surdinha era. "Estava você invisível para o mundo?", indagaram aí, não sei ao certo quem. Batata, respondo à antiga. Não sei se frita, recheada ou suíça, mas ba-ta-ta! Estava invisível para o mundo. O mais jovem de todos os interlocutores que dialogam comigo quer saber: "Aproveitando a invisibilidade, foste lá?" Eu, que não nasci ontem, respondo que não tenho doze anos há muito tempo, que sei perfeitamente que este "lá" a que o garoto se referiu nada mais era do que o Banheiro Feminino, digo então que ele está fazendo um mau juízo de mim, que eu não seria capaz de tamanha vileza, qual seja a de me valer da minha invisibilidade para ver sem ser visto, coisa e tal. No entanto, para gáudio de meus detratores, confesso que fui, fui lá... mas só porque o apelo era muito forte e eu pretendia dar uma olhadinha básica pra matar a curiosidade e cair fora. As mulheres se revoltam, me chamam de canalha pra baixo. Naquela hora, "covarde, crápula, indecente..." seriam até elogios à minha volúvel pessoa. Mulher é um bicho curioso, depois que extravazaram toda a sua ira, queriam que eu descrevesse em detalhes como foi a tal visita: "Fala logo... Conta tudo de uma vez, seu filho da puta!", disse a mais indignada. Não tive outra escolha, contei. Sabe aquela assistente de serviços gerais que não me deu ouvidos, uma tal de Laura? Pois é, teve uma hora que eu fiquei sozinho com ela no WC Feminino, que tinha "She" escrito na porta e muita gente pensava que era pra fazer silêncio. Na verdade, ela ficou sozinha; eu fiquei ali morcegando. Já pensaram que quando você erra uma vez, logo aparecem novas oportunidades de erro pra te seduzir e fazê-lo errar de novo, oportunidades geralmente irresistíveis? Perfeito, não deu outra, tentei ver se a minha invisibilidade era completa ou só para sons e imagens, será que Laura sentiria meu toque? A plateia agora se divide de maneira grosseira: os homens querem detalhes; as mulheres vaiam, xingam, ameaçam... mas não se opõem a que eu conte tudo o que houve entre mim e Laurinha, a compenetrada assistente de serviços gerais ("compenetrada" no bom sentido, não me interpretem mal, hehehe... ). Bem, como eu ia contando, fiz o teste. Toquei de leve, vocês sabem em que parte do seu corpo, não sabem?. Primeiro, ela deu um pulo, olhou para os lados, balançou a cabeça, sacudiu os braços, talvez pra ver se encontrava algum abusadinho invisível. Não achou nada, é claro, pois enquanto eu a via e escapava de seus movimentos, ela nem imaginava o que estava acontecendo. Querem detalhes? Mais ainda?, pergunto eu. Não é preciso responder... Pela cara que fazem devo continuar, não é mesmo? Pois bem, depois daquela "aproximação" inicial fiz coisas mais ousadas. No início, ela tentou impedir; depois, como era de se esperar, "resignou-se" e acabou gostando, adorando, ululando (nada a ver com o excelentíssimo, ok?). Vejo que as mulheres na plateia mais uma vez usam do sórdido recurso das vaias e dos impropérios insultuosos, mas não faz mal, a verdade não toma partido, embora muitas vezes tome outras coisas, ahahaha... Me tranquei com Laurinha no banheiro. A porta do reservado era daquelas que eles cortam na base, de modo que do lado de fora é possível ver os pés de quem está lá dentro. E quem olhasse veria somente os pés descalços da assistente. Sim, ela tirou toda a roupa e os sapatos; eu tirei o ... Bem, creio que todos têm imaginação suficiente para saber o que aconteceu, correto? Só mais um detalhe, em determinado instante, Laura começou a respirar daquele jeito ofegante, depois falou umas coisas, uns nomes, ouvi um: "Cachorro..." Mas não sei se era comigo ou com alguém que tinha feito uma cachorrada qualquer com ela. Deu uns grunhidos, uns gritinhos, depois uns gemidos cada vez mais altos, a tal ponto que eu tive que colocar minha boca em sua boca para abafar o barulho e ela quase desmaiou de prazer (a "sua boca" a que eu me referi não era a "vossa", entendeu? era a dela. Só que eu não disse que coloquei minha boca na boca dela pois ficaria um cacófato horrível e com um duplo sentido pior ainda, concordam?). "Acabe logo com isso, plagiador barato!", grita alguém lá do fundo da plateia, não sei que tipo de voz, não sei se voz de homem ou se de mulher, ou se de qualquer outra coisa, mas o fato é que eu respondo que sim, que a história está chegando ao fim, mas a bem da verdade preciso dizer que saí dali com a torpe idéia de fazer o mesmo, digamos, proporcionar a "mesma surpresa" à minha mulher. Queria ver sua reação, queria saber que tipo de atitude tomaria diante do inusitado. Confesso que também me excitava a ideia de ser outro sendo eu mesmo. Voei para casa ("voei" no sentido figurado, certo?). Lá chegando, para encurtar a narrativa, fiz tudo aquilo que tinha feito com a senhorita Laura, assistente de serviços gerais do shopping. Qual não foi a minha surpresa ao ver que as reações da minha mulher foram absolutamente idênticas às de Laurinha... Gente... Que puta decepção! Até de cachorro ela me chamou, só que dessa vez eu sabia que era comigo mesmo: o cachorro que estava ali e o cachorro que não estava. Vejo que na plateia todos vocês riem, alguns choram de tanto rir e aproveitam pra me chamar de "corno", "corno aproveitador", essas coisas que machucam um homem invisível. Bem, esta é a história. Depois de tudo aquilo me separei, me divorciei, por vingança sem dizer qual o motivo. Fiquei sozinho à espera de me tornar um dia novamente invisível, o que jamais aconteceu. Um sábado de verão, de tardezinha, voltei ao mesmo shopping. Depois de dar umas voltas, tentei entrar na tal loja, a porta não se abriu para mim. Tentei de novo e nada. Já estava convencido de que a invisibilidade tinha voltado, quando surgiu uma linda funcionária para me informar que aquela porta estava com defeito, "Entre pela outra porta, senhor", disse ela.. Olhei o crachá e lá estava: "Laura - Encarregada de Segurança Interna. Posso Ajudar?". Agradeci e fiquei olhando a moça ir embora, gostosa como ela só,  conferindo sua boa forma nos milhares de espelhos que ali havia, cantando baixinho aquele eterno sucesso "Eu nunca mais vou te esquecer...", na interpretação de Agnaldo Timóteo. 
Valeu?  

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