Vamos colocar os pingos nos “is”.
Em primeiro lugar, entenda: estas instruções não se destinam àqueles que não querem ler, mas sim aos que pretendem escrever para os que não querem ler, perceberam?
Uma vez separado o joio do trigo, aí vai a primeira regra:
Nunca use expressões antigas e desgastadas, tais como “separar o joio do trigo”.
Evite parágrafos longos, não fique dando voltas, vá direto ao ponto – esta é a segunda regra.
Uma vez que você está escrevendo para quem não quer ler, nunca se esqueça: um textinho curto é muito mais fácil de não ser lido do que um textão longo.
Se em determinado momento quiser medir a eficácia de seu trabalho, experimente colocar um palavrão perdido lá no meio do texto. Algo como um puta-que-pariu pequenino ou ainda um vá se foder... e continue escrevendo normalmente. Se ninguém reclamar é sinal que você está se saindo muito bem na sua tarefa de escrever para quem não quer ler, seu filho da puta. Eu, por exemplo, tenho a certeza de que até agora não fui lido por ninguém, haja vista a falta de reclamações de qualquer espécie.
Não podemos esquecer, e esta é a nossa quinta regra, que os autores de textos dedicados a quem não quer ler são, em geral, pessoas pouco interessadas no lado prático da vida. Assim sendo, volta e meia caem em devaneios, entram em depressões de origens variadas, duvidam de seu próprio potencial, etc., etc... Tudo isso acontece porque estão prestando mais atenção em si mesmos do que nos seus não-leitores. Humildade, companheiros, é, neste ponto, a palavra-chave.
Finalmente, a sexta regra, aquela que é por nós considerada a Regra de Ouro das Instruções: se você está escrevendo para ninguém ler, lembre-se sempre de nada dizer. Caso contrário, estaríamos invalidando a própria razão do texto, das instruções e de tudo o mais...
Há os que sucumbem no meio da jornada, mas também há os que vencem com galhardia todas as etapas. Aos incrédulos, àqueles que desconfiam e desanimam, mais uma observação: vai que o Galvão Bueno gosta do que você escreve... Fala sério, não é muito melhor ficar com os não-leitores?
Finalmente, aí vai o último conselho: “Façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço”. Sigam a regra, mas evitem mencioná-la, tendo em vista o desgaste que a expressão adquiriu ao longo do tempo. Queria mais? Escreve você...