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terça-feira, 3 de agosto de 2010

Teatro Realista Infantil. Peça: Anos de Chumbinho

No fundo do palco, dois halterofilistas, sem camisa e encapuçados, cada um segura um machado de cabo longo.
Mais à frente, dois atores, um vestido de vermelho e o outro de azul, discutem elevando gradativamente a voz:

Vermelho: "Em primeiro lugar..."
Azul: "Cala a boca!"
Vermelho: "Em primeiro lugar, eu queria dizer..."
Azul: "Cala a boca!"
Vermelho: "Em..."
Azul (aos berros): "Cala a boca, porra! Já falei!"

Na plateia, um homem se levanta e também grita:
Homem na plateia: "Deixa o cara falar!"
Algumas fileiras à frente de onde está o homem que acabara de intervir, uma mulher também se levanta e berra para o homem:
Mulher na plateia: "Cala a boca você também, porra!"

A partir dessa discussão, outras pessoas na plateia se levantam e passam a exigir que o ator de vermelho fale ou que ele se cale, conforme mandou o de azul. A confusão ganha corpo, alguns invadem o palco e a violência é generalizada: luzes são quebradas, cadeiras arrancadas do chão e arremessadas em todas as direções, pessoas gritam e choram, alguns se agarram, desferem murros e tapas, rasgam-se elegantes vestidos e sóbrios ternos. Os carrascos halterofilistas saem de machado em punho atrás do ator de vermelho, que tenta escapar inutilmente, pulando as poltronas e derrubando as pessoas. A "guerra" perdura por alguns longos e surpreendentes minutos.
Quando afinal os carrascos arrastam o ator de vermelho de volta ao palco, o burburinho vai diminuindo até cessar por completo. Nesse momento, entra em cena um ator de suspensórios e calças largas, com um cigarro apagado no canto da boca, em evidente alusão ao genial dramaturgo Nélson Rodrigues. Ele olha o cenário de destruição, balança a cabeça e diz:

Nélson: "Pode quebrar, quebra tudo... eu pago! (bate com a mão no bolso da calça e diz): Dinheiro há, dinheiro há..."

Não cai o pano, pois o mesmo foi arrancado, rasgado, triturado por atores, atrizes, figurantes e até pelo distinto público presente ao inusitado espetáculo teatral.
(escusado dizer que não mereceu apoio de empresa alguma, tampouco da salvadora Lei Rouanet)

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