A
Companhia de Teatro Belateta apresenta:
Pictórico
O
homem na calçada senta-se no meio-fio para olhar a janela do quinto
andar, amarelado retângulo mal-definido.
A
mulher, no lado de dentro do quarto, mira a mesma janela, agora
moldura aberta ao prateado da noite e seus mercúrios.
Uma
negra, vestida em farrapos coloridos, segurando no colo um bebê
oriental, canta, na senzala do asfalto, babalú aiê, dame un cabo de
tabaco, mañiengue. Y un jarrrito de aguardiente.
Na
TV, som alto, o ético adverte:
"Está
cada vez mais difícil ao cristão contemporâneo amar o seu
semelhante como a si mesmo. Em parte, por causa do outro; mas
sobretudo por si próprio."
O
motociclista escuta, deglute, reflete. Comenta com a mulher na
garupa:
"Este
é um pequeno trecho da obra Memórias do Papa Negro, vedada a
reprodução total ou parcial sem a autorização expressa do autor".
Quando
foi possível amar ou odiar alguém como a si mesmo?
Rumina
o passante.
Na
janela do quinto andar, a mulher atira uma chupeta branca para o bebê
amarelo da cantora negra.
Pano
lento.