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terça-feira, 31 de maio de 2016

Formigas no açucareiro

“É preciso dançar conforme a música”.
Conhece alguma frase mais castradora do que essa?
Tem outras que chegam perto, tipo: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”, muito repetida e cada vez mais obedecida.
Tem essa também: “Nadou, nadou... e morreu na praia”, que além de fúnebre sugere o absurdo de que o sujeito ao cair no mar devia logo se afogar, poupando suas energias, sabe-se lá pra quê.
E aquela expressão “dar murro em ponta de faca”? Vai pelo mesmo caminho da resignação, da subserviência.
O fato é que todas elas estão bem sedimentadas em nossas cabeças de cordeirinhos. Pertencem à mesma linhagem da prepotência por um lado; do conformismo por outro. No fundo, fazem um elogio a quem sabe viver das migalhas que a vida oferece, em dólares, euros, cartões de crédito, todos os seus desejos em até dez vezes sem acréscimo. Não há como escapar. De um jeito ou de outro, cairemos todos na armadilha.

Agora, só pra não deixar o fatalismo exibir um sorriso triunfal, deixando à mostra seus dentes podres, imagine inverter o conteúdo da primeira frase e propor algo como: “Indispensável NÃO dançar conforme a música”.
Pense na idéia tomando corpo, sorrateiramente se espalhando, contagiando mentes livres, corações abertos. Os loucos contestadores abrindo caminho por entre os escombros da mesmice, trombando com o “razoável”.
Está mais do que na hora de deflagrar uma dessas revoltas natimortas, que escarnecem do bom senso e recusam lembranças articuladas, narrativas lineares. Fragmentos que fazem explodir a pergunta: “Que banda é essa que toca pra gente dançar conforme a música?”
Escapar das grades que nos cercam; fazer algo, que não seja o “criar”, com outras palavras e cenas, o que há muito já foi criado e recriado: a revolta da fuga.
Formigas no açucareiro? De lá não sairão por vontade própria.
 

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