A POUSADA
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- Alô
- Oi
- Quem fala?
- Não tá reconhecendo minha voz?
- Hmmm... Pra falar a verdade, não
- Vou te dar umas pistas
- Ai, ai, ai...
- Estive aí no verão passado
- Você e umas quatrocentas e trinta pessoas
- Mas comigo a coisa foi diferente
- Dá pra dizer quem é? Tô cheio de trabalho aqui
- Lembra de uma menina de BH, de óculos escuros e bermudinha cor-de-rosa?
- ...
- Fiquei uma semana aí na tua pousada
- Tá querendo voltar? Quer que eu faça uma reserva?
- Calma... Você é apressadinho, como sempre. Quero saber se lembra ou se não lembra.
- Mais ou menos
- Como é que pode...? Eu achando que era só ligar e pronto, você ia se derreter novamente
- O calor tá forte, mas o verão ainda não entrou pra valer
- "Se derreter" no sentido figurado, seu grosso
- Não estou entendendo onde a senhora quer chegar
- Não me chama de senhora! Já devia saber que eu não gosto
- Tá certo... Mas pode me dizer qual é o motivo da ligação?
- Depende...
- Pelo amor de Deus... Depende do quê?
- Da nossa ligação, do que sobrou do último verão
- Eu não acredito...
- Você já dizia isso no ano passado
- Dizia o quê?
- "Eu não acredito no que está acontecendo entre nós..."
- Pode passar...
- Pode passar o quê?
- Não foi com você que eu falei. Tava mandando passar o cartão do hóspede na maquineta
- Hmmm... Cartão, maquineta... Sua pousada cresceu
- Tamos trabalhando nesse sentido
- O que mais tem crescido ultimamente? Muita menina bonita aí?
- Bastante
- Alguma de BH?
- Umas doze... Vieram de ônibus
- Ônibus? De excursão?
- Sim... Tá parado aqui na porta
- Alguma de óculos escuros e bermudinha cor-de-rosa?
- Umas três
- Cachorro... É por isso que tá me tratando assim, friamente
- Não foi minha intenção
- Acabou de estragar minhas férias
- Posso lhe dar uma sugestão
- ...
- Julho aqui fica às moscas, é meio frio, não dá pra usar bermuda... Mas tem chocolate quente e uma suíte com aquecimento e sauna
- Julho?!
- Até lá eu te mando umas fotos por e-mail e gente conversa no msn, topa?