Tudo o que eu penso fazer, alguém já fez antes, e isso é uma merda. É uma merda saber que alguém já fez a novidade revolucionária que você apenas imaginou. Não refresca nada saber que a tal novidade revolucionária não passa de uma boa merda. Por mais incrível que pareça, eu, que não teria participação alguma na boa idéia já criada, me sinto cúmplice da merda que outros fizeram e que um dia julguei ser uma boa e revolucionária idéia, mas que merda...
Pinçado de:
DESCONEXOS
(Impressões sobre o nada)
f.n.
Os ratos embarcam nos navios subindo por aquelas cordas que chamam de amarras, aquelas que não deixam o navio se afastar do porto quando é levado mansamente ao sabor das ondas. Os ratos não pertencem ao navio, não são daquele mundo. Usam o navio para visitar outras cidades, conhecer novos países, quem sabe até longínquos continentes... Enquanto isso, comem a comida do navio (muitos dizem que é só a fome que os leva a bordo, mas o deus dos ratos sabe que não é verdade, eles também têm um lado místico e sentem-se atraídos por terras e gentes estranhas, jantares exóticos, misteriosas aventuras).
Pesa sobre o caráter dos ratos uma séria acusação, a de que seriam eles os primeiros a abandonar o navio em caso de perigo. Mas, como lhes disse há pouco, os ratos não pertencem àquele mundo. Creio que não se sentem à vontade mastigando restos e se aglomerando nos porões, enquanto outras ratazanas de lindas pernas e virilhas depiladas tomam sol à beira da piscina. Pra ninguém julgar que os pobres ratos são torpes machistas, saibam que eles também acham repugnantes e desprezíveis os roedores graúdos, com suas barrigas imensas encostadas no balcão do bar, sorvendo drinques coloridos, quebrando amendoim japonês com seus maxilares e contando piadas sujas sobre as ratazanas dos outros.
Escrevi isso dormindo, ou quase. Quando acordei, Mari esfregava suas coxas na altura do meu queixo. Ao me ver abrir os olhos, disse: “Vem, ratón... seu bêbado”. Aquela puta, falsa gringa, tinha mesmo o dom de estragar a estória dos outros.
Nessa época eu estava interessado em pesquisar e patentear uma técnica que transformasse as palavras em imagens polidimensionais em movimento, diretamente na cabeça do leitor, ou do freguês, melhor dizendo. O cara lia e a história se descortinava no interior de seu cérebro abestalhado. Seria, no meu modo de ver, a única saída para a literatura equilibrar a “guerra” perdida para o cinema e as telenovelas. No início achei que deveria ser um dos ramos da semiótica, com aquele papo de transcrição de linguagens, coisa e tal... Depois concluí que semiótica era o caralho, tinha que ser uma coisa objetiva, algo diferente de tudo que os humanos já tinham pensado ou imaginado em suas vidinhas teóricas.
Cheguei a resultados surpreendentes, mas é claro que não os revelarei aqui. Por enquanto só posso dizer que o centro da pesquisa referia-se a algo como a “aceleração da palavra”, um método destinado a evitar a defasagem entre o pensamento escrito e o mesmo pensamento no interior do cérebro humano (dizem que a repetição da palavra, sua descrição lógica, não tem a mesma velocidade dos pensamentos, daí as desvantagens da literatura). Um dia, talvez muito antes do que se pensa, vocês terão acesso a descobertas de cair o queixo, por falar em queixo, a puta Meire (ou era Marli, sei lá...) acabou gozando na minha boca.
“É isso que você deseja? A ausência, o desprezo, a cara de quem nunca te viu na vida e nem sequer sabe quem você é?”
Certas perguntas aparecem de repente, como um flash interior, voltado para o olho do fotógrafo. Ocorre sem a gente querer, sem que se possa impedir, barrar, filtrar. É uma pergunta que já vem com a resposta, ou respostas, te reduzindo a zero.
Já teve gente que escrevia soltando o verbo e achava que isso era o máximo, a onda de pôr pra fora sem pensar. Não levou a nada. Acho eu que a razão é meio óbvia, o que é vomitado por um tem que ser deglutido por outro, e quase nunca a intenção corresponde ao resultado, sem falar na inevitável náusea que acaba provocando. Também não levou a nada aquela onda de ficar revolvendo a cabeça e o passado, como os jardineiros costumam fazer na primavera. Aquilo lá é bom pra engordar psiquiatras, psicanalistas e suas lindas recepcionistas. Não esqueçamos dos “fotógrafos”, ainda estão por aí, são os mais numerosos. Hoje confundem-se com os “diaristas”, pensam que só o real existe, ainda não foram apresentados aos dólares, aos euros, hahahaaaa... Boa essa? Eu, hein... Por mim quero que se foda, não tenho nada a ver com isso. Cada um que faça as confissões que bem ou mal entender. Como já lhes disse, meu negócio é outro, embora tenha horas que eu mesmo esqueço de tudo e já nem sei direito qual é esse meu negócio de que lhes falo. “É isso que você deseja? A ausência, o desprezo, a cara de quem nunca te viu na vida e os ouvidos que nunca te escutaram?”
Voltando ao tema da pesquisa, digamos que seria necessário proceder a uma pré-raspagem na memória da cobaia. Não se trata de uma lavagem cerebral, uma lavagem não seria o suficiente, nem que fosse a Wap de alta pressão. Acho que tem que haver uma raspagem mesmo, uma espécie de curetagem, semelhante à que os ginecologistas fazem no interior de algumas mulheres. Digo isso porque não pode existir imagem de referência, pois ela própria seria uma barreira, um anteparo. Daí que me ocorreu uma frase “genial” para escrever no parachoque do mercedão: “Liberdade de verdade vem do nada ou não é nada”.
Um vulto de mulher encostada na porta de um pequeno prédio de três andares; um pequeno vulto de mulher encostada na porta de um prédio de trinta andares; um vulto de três andares encostado na porta de uma pequena mulher. Quantas vezes você já registrou imagens como essas no interior da sua, digamos, saturada mente? Daí a necessidade da mencionada raspagem, uma boa aspirada industrial talvez desse conta, quem se habilita?
Ela quis ser simpática, acho eu. Mandou um “he he he”. Eu respondi, delicadamente: “... he he he é riso de quem não tá rindo de verdade. O que é que vc escreve qdo cai na gargalhada? ahuahuahuaaaa...? Ou isso é mto adolescente para a sua improvável maturidade?” Ela não mais quis ser simpática e devolveu: “Vc tbm fala desse jeito? Com essas palavras estranhas?” Eu acertei um cruzado de direita na ponta do queixo (olha o maldito queixo aí de novo, só que dessa vez não era o meu...): “... Palavras, sílabas, letras... Td isso que eu qro fragmentar aí dentro da sua kbça” Mas não será através de gírias incompreensíveis nem de abreviaturas insignificantes.
É triste se apaixonar pela pessoa errada, mas, quando alguém ama e não é correspondido, está aberto, vulnerável a sentimentos torpes e atitudes desprezíveis, como, por exemplo, sorrir ao saber que a pessoa errada também se apaixonou por uma outra pessoa igualmente errada. Trata-se de pura vingança; embora estéril, reconfortante. Em alguns casos, renova esperanças.
“Como você pode ter certeza que está apaixonado se nunca olhou nos olhos nem tocou na pele?”, disse ela.
A resposta, como não poderia deixar de ser, veio no estilo auto-ajuda romântica: “Acha que o amor se alimenta de superficialidades, como a cor dos olhos e a suavidade da pele? Isso vale para comerciais de lentes de contato e sabonetes hidratantes. O amor vem de outras substâncias e essências, que só existem aqui dentro de nós dois... Você com as suas; eu com as minhas”.
Incrível essa capacidade de “transcender” na banalidade, hehehe...
Um vulto de mulher encostada na porta de um pequeno prédio de três andares; um pequeno vulto de mulher encostada na porta de um prédio de trinta andares; um vulto de três andares encostado na porta de uma pequena mulher. Quantas vezes você já registrou imagens como essas no interior da sua, digamos, saturada mente? Daí a necessidade da mencionada raspagem, uma boa aspirada industrial talvez desse conta, quem se habilita?
Ela quis ser simpática, acho eu. Mandou um “he he he”. Eu respondi, delicadamente: “... he he he é riso de quem não tá rindo de verdade. O que é que vc escreve qdo cai na gargalhada? ahuahuahuaaaa...? Ou isso é mto adolescente para a sua improvável maturidade?” Ela não mais quis ser simpática e devolveu: “Vc tbm fala desse jeito? Com essas palavras estranhas?” Eu acertei um cruzado de direita na ponta do queixo (olha o maldito queixo aí de novo, só que dessa vez não era o meu...): “... Palavras, sílabas, letras... Td isso que eu qro fragmentar aí dentro da sua kbça” Mas não será através de gírias incompreensíveis nem de abreviaturas insignificantes.
É triste se apaixonar pela pessoa errada, mas, quando alguém ama e não é correspondido, está aberto, vulnerável a sentimentos torpes e atitudes desprezíveis, como, por exemplo, sorrir ao saber que a pessoa errada também se apaixonou por uma outra pessoa igualmente errada. Trata-se de pura vingança; embora estéril, reconfortante. Em alguns casos, renova esperanças.
“Como você pode ter certeza que está apaixonado se nunca olhou nos olhos nem tocou na pele?”, disse ela.
A resposta, como não poderia deixar de ser, veio no estilo auto-ajuda romântica: “Acha que o amor se alimenta de superficialidades, como a cor dos olhos e a suavidade da pele? Isso vale para comerciais de lentes de contato e sabonetes hidratantes. O amor vem de outras substâncias e essências, que só existem aqui dentro de nós dois... Você com as suas; eu com as minhas”.
Incrível essa capacidade de “transcender” na banalidade, hehehe...
(continua, é claro. Só não sei quando...)