Vamos colocar os pingos nos ii, tá certo? Você me diz que não é de hoje que o indivíduo deixa uma faca sobre a mesa e um revólver calibre 22 na estante, diz que até já me falou sobre isso, mas que eu não lhe dei ouvidos, e antes que você comece a se queixar e a dizer que homens como eu não dão ouvidos a mulheres como você, concordo, revelo que sim, me lembro vagamente. Vagamente, Arturo? Vagamente?! Aí já não está mais se queixando, mas acusando a minha proverbial indiferença para com tudo que for prático na vida, e me dá vontade de falar bem alto o que vai aqui por dentro, mas é melhor deixar essas pequeninas rusgas para uma outra hora, depois que acharem o corpo do indivíduo caído no chão do banheiro. Tem certeza que está morto? Tsuy me pergunta, mas você toma a frente e responde, sim, claro que temos, o indivíduo está mortinho, deitado de bruços no chão do banheiro, eu, nem tive tempo de argumentar com Tsuy, por que pergunta, pequenina? Você continuou conversando com ela e explicando que afinal era esse mesmo o tal crime que o indivíduo estava tramando para pôr a culpa em nós dois, a vítima, quem diria, era ele mesmo, o senhor manda-chuva, mas se nenhum de vocês dois esfaqueou o pobre ou meteu nele uma bala nos ouvidos, por que acham que alguém iria culpá-los?, diz Tsuy e nós dois agora silenciamos, olhamos para ela como quem pergunta, se não fomos nós (é bem verdade que não fomos) e mais ninguém entrou aqui, só pode ter sido... O meu amante?, exclama Tsuy indignada, vocês é que sabem em quem devem pôr a culpa. Por incrível que pareça, é Tsuy quem está certa, não por essa infantil conclusão, mas por ter perguntado se o cara estava mesmo morto, não é que ele abriu a porta do escritório e entrou cambaleando, como quem ainda está bêbado em plena ressaca de sábado à noite? você deu um grito, Tsuy sorriu.
