“Um dia, choverá no deserto, a terra voltará a ser fértil e o clima, agradável.
Se não aconteceu é porque ainda não chegou o dia”.
Se não aconteceu é porque ainda não chegou o dia”.
O sofisma aí em cima parece uma brincadeira, semelhante àquela ironia de Nélson Rodrigues: “Todo amor é eterno; se um dia acabou, é porque não era amor”.
Muitos sorriem; outros pensam que alguma armadilha deve haver ali escondida.
Brincadeira? Humor de almanaque? Pois lembre-se que todas as religiões, antigas e modernas, usam e abusam de juízos semelhantes.
A tão cruel e temida Santa Inquisição justificava torturas e assassinatos contra possíveis bruxas, inimigos da fé ou simplesmente adversários políticos com a “genial” saída:
“Se a pessoa que está sendo barbaramente torturada for inocente, Deus vai lhe dar forças para resistir e ela não confessará o crime do qual é injustamente acusada”. Como ninguém resistia, os Inquisidores reinavam como emissários do Todo Poderoso, intérpretes da Justiça Divina.
Os infiéis? Fogueira neles.
Os infiéis? Fogueira neles.
O princípio do celibato reina sobre o mesmo fundamento: um padre é o representante de Deus perante os homens. Portanto, é capaz de resistir às tentações da luxúria, da gula, da inveja, da preguiça, da avareza... Não precisa e não deve casar, nem constituir família ou acumular riqueza. Deus dará força a quem possuir a verdadeira vocação para o sacerdócio.
Mas e quando sacerdotes não resistem às tentações do demônio e saem por aí molestando coroinhas? *
Aí entra novamente o tal sofisma: “Sua vocação não era verdadeira, ou ele perdeu a fé, abandonou a Igreja e seus ensinamentos”.
Nos dias de hoje, pela primeira vez em dois mil anos, um papa é acusado formal e publicamente de tentar encobrir graves crimes cometidos por seus subordinados, os tais padres, bispos, monsenhores, arcebispos que perderam a “vocação”.
Humilhado, pede desculpas.
Contudo, a verdadeira e eficaz conclusão a que deveria chegar, a necessidade de abolir o celibato e reconhecer o caráter humano de seus sacerdotes, isso Sua Santidade não faz, não fará jamais, a não ser que Torquemada ressuscite e o pendure no pau-de-arara eletrônico para que ele confesse seus pecados.
Mas temo que só acontecerá depois que chover no deserto.
Até lá vamos continuar a ver nos parabrisas dos automóveis frases como: “Deus é Fiel”, “Propriedade de Jesus”, “Tudo Posso Naquele Que Me Fortalece”, "Não Sou Dono Do Mundo, Mas Sou Filho Do Dono"...
Luxúria entre os católicos; avareza entre os protestantes.
Tem até vídeo com técnica de arrecadação.
Só me resta concluir: Deus não está comigo, talvez porque eu tenha esquecido de pagar o dízimo.
Pois sim...
* Quando era criança havia uma brincadeira, muitos devem conhecer: "O último lá é mulher do padre". Nunca tinha pensado sob esse ponto de vista. Será???
* Quando era criança havia uma brincadeira, muitos devem conhecer: "O último lá é mulher do padre". Nunca tinha pensado sob esse ponto de vista. Será???