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Ok?

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Tirem Suas Conclusões

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Precisava mostrar que não valia a pena, tudo tem um preço e esse era alto demais, não poderiam pagar. Foi por isso que fez o que fez? Sim, não vi outra saída. Não lhe passou pela cabeça que você também teria um preço a pagar? Ou achou que você, só você, estava acima do bem e do mal? Confesso que não pensei em mim mesmo, nunca fui egocêntrico. Essa agora, tenta se justificar como se fosse um abnegado, algo assim. Não julgue quem não se julga, o que eu quis dizer foi só que não pensei em mim quando tentei ajudá-los. Vamos recaptular? À vontade. Tudo começou quando você ia passando pela rua e um sujeito com um revólver saltou na frente de uma mulher? Sim, mas não a ameaçou, disse apenas: “Segura essa arma, vai aparecer um bandido vestido de gorila, aponte para ele e atire, antes que ele mate você”. Tudo não passava de uma brincadeira na TV? É, uma dessas pegadinhas. O que aconteceu em seguida? O cara do revólver foi embora e o tal gorila saltou na frente da mulher com uma metralhadora nas mãos. Ela atirou? Atirou nada, saiu correndo. E depois? Fiquei por ali, acompanhando a gravação com outras pessoas,  alguns atiraram no peito do gorila. Sério? Era um revólver de brinquedo, desses que esguicham água. Sei, o gorila tirava a máscara e apontava para a câmera escondida? Isso mesmo, e dizia que se a arma fosse verdadeira ele ou ela tinham acabado de matar um inocente, fantasiado de gorila, segurando uma metralhadora também de brinquedo. Foi pra casa pensando nessa história? Não propriamente na história, mas em seu conteúdo. Como assim? Fiquei pensando em como é fácil induzir alguém a fazer algo que não lhe passa pela cabeça. Entendi, daí soltou a imaginação e arquitetou seu plano. Mais ou menos, antes precisava ter a certeza de que todos deviam pagar pelos seus erros. Ela também foi sua amante? Foi, faz tempo, mas isso não teve nada a ver. Tem certeza absoluta que não agiu por ciúme ou por vingança? Como acabei de dizer, isso não teve nada a ver com o caso. O “caso” que você fala envolvia Ester, a amante morta, e o casal? Certo, vamos chamar de “casal X” porque estão envolvidas pessoas famosas, mundialmente conhecidas, qualquer referência explícita pode acabar em processo. Você descobriu que Ester faria com o Sr. X a mesma coisa que tinha feito com você anos atrás? Primeiro, desconfiei; depois, tive a certeza. Quando? Quando percebi que Ester também se aproximara da Sra. X, como fez com a minha ex-mulher. Entendo, queria se tornar íntima, para depois exigir seu pagamento, uma chantagem em dobro, pois estava com os dois nas mãos. Isso aí, o problema é que mesmo pagando, o casal X não teria mais sossego. Tal como aconteceu com você. Sim. Continue do ponto em que parou, a tal pegadinha lhe deu a ideia de? Vamos com calma, eu era amigo do casal X, sabia o risco que os dois corriam nas mãos de Ester, mas não podia contar nada a nenhum dois, é claro. Vai falando. Então, em resumo, um dia a Sra. X me telefonou, queria me contar o que estava acontecendo, fui até sua casa e, adivinhe, era o que eu já sabia. Ester mostrava as garras? E que garras, segundo a Sra. X Ester tinha fotos, vídeos, o diabo... queria vender caro o seu silêncio. O Sr. X sabia de alguma coisa? Ainda não, Ester atacava os flancos, agiu da mesma forma comigo. O que você sugeriu à Sra. X? Disse que ia me encontrar com o Sr. X e contar o que estava acontecendo. Como a Sra. X reagiu? Disse que estava bem, que eu devia mesmo alertar seu marido, na verdade, nunca houve problema entre eles, eram o que se chama de um casal aberto, entendeu? Claro, muito comum nesse meio em que vivem. Viviam, não se esqueça do que aconteceu. É verdade, viviam, conte o resto da história, procurou o Sr. X e? Contei a ele quem era Ester e o que estava fazendo com a Sra. X. E ele? Não pensei que viesse a ter aquela reação, ficou possesso. Ciúmes da mulher ou da amante?  Talvez das duas, mas isso não vem ao caso. É verdade, pouco importa. Sugeri ao Sr. X que simulasse um flagrante e ameaçasse Ester com uma arma. A sua arma? Infelizmente, emprestei meu revólver para o Sr. X levar para casa e esconder em algum lugar do quarto, a Sra. X também estaria avisada. O que você pretendia? Primeiro, preciso dizer que colocara balas de festim em lugar das verdadeiras e alertei o casal sobre isso. Bala de festim chamusca, mas não mata. Não deveria, né? O que aconteceu então? Até hoje não sei ao certo, mas acho que a Sra. X armou aquilo tudo nos mínimos detalhes. Será? Só pode, quando o Sr. X surpreendeu as duas no quarto e ameaçou Ester com a arma, sua intenção era apenas exigir as provas, fitas, fotos e vídeos da chantagem. Você ficou em que lugar nessa hora? Assim que ele entrou no quarto eu saí da casa, para não me envolver além do necessário. Foi então que ouviu o tiro? Perfeito, já estava lá embaixo, o Sr. X acertou em cheio o coração de Ester, com uma balinha calibre 38, que de festim não tinha nada. E a Sra. X? Aí é que está, convenceu o marido a ligar para mim e pedir ajuda. Queria o quê? Se livrar do corpo, é claro. Você foi, ajudou o Sr. X a carregar Ester até o carro? Sim. Andaram duas ou três quadras e um veículo da polícia descaracterizado os interceptou? Exato. Foram logo abrindo o porta-malas e descobriram o cadáver fresco? Fresquinho da silva. Acha que a Sra. X ligou para a polícia e fez a denúncia? Creio que não, não teve tempo pra isso. Quem foi então? Tem um diretor de cinema e TV na história, parece que todo mundo já sabia, menos eu e o pobre do Sr. X. Sempre o último a saber. Certo. A polícia não identificou de que telefone veio a denúncia? Identificou: um telefone público em frente ao prédio. O Sr. X está preso, encontraram no apartamento a arma do crime com suas digitais. Isso, as digitais dele na minha arma, muito bonito. O que você conclui de tudo isso? Hoje sei que é muito fácil um tiro sair pela culatra, principalmente quando a arma está no seu nome. Vai alegar inocência? Claro, vamos provar que foi a Sra. X quem substituiu as balas de festim por outras verdadeiras, o Sr. X alega que ela ainda o incentivou a atirar. Entendi, o Sr. X pensando que as balas eram falsas mandou chumbo. E que pontaria... Mesmo acreditando em vocês, não vai ser fácil provar, a não ser que encontrem as tais fitas e fotos. A Sra. X sumiu com tudo, pura armação, ela mesma produziu o material. É... homicídio duplamente qualificado, é o que vão pedir. Tudo por culpa de um gorila e de um revólver de brinquedo. Mas, como você mesmo disse, as pessoas devem pagar pelo que fizeram. Ou deixaram de fazer.  

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